sábado, 22 de junho de 2013

RASGAR PAPEL

A vida é tão estranhamente simples… Entre o nascer e o morrer sucedem-se centenas de episódios. Nenhuns deles pré-escritos. Escrevemos esses episódios com maior ou menor velocidade e clareza, consoante a necessidade, as condições oferecidas e produzidas… E todos eles se traduzem em diferentes sentimentos, que depois gerem a nossa forma de amar a vida.

Somos felizes? Talvez a felicidade tenha significados diferentes...

É sobre isso que me pergunto? O meu Pai está cansado. Adormeceu, ali no sofá, cansado…

Hoje o meu Pai queria ajudar! Queria ajudar a fazer “qualquer” coisa…

Meditando acerca da sua existência não consigo imaginar o quão vegetativa é, sem ele o estar. Porque a mim me falta por vezes a imaginação, a capacidade de inventar.

E hoje tive um rasgo de inspiração – sem falsas modéstias. O meu Pai pediu-me! O que é que eu posso dar ao meu Pai para fazer? Mal se mexe, não vê, o seu raciocínio está toldado pela doença, o que é que eu faço? Como é que eu lhe concedo este desejo?

Reciclar! 

Falámos sobre reciclar. Dei-lhe papel - revistas, jornais – para rasgar.

- No meu tempo queimávamos o papel numa fogueira, na praia.
- Mas hoje o papel é para reciclar, Pai. Do papel velho faz-se novo. Por isso não o podemos queimar. Rasgamos e mandamos para o centro de reciclagem para fazerem papel novo.

E o meu Pai rasgou papel, enquanto a minha Mãe descansou – foi ao cabeleireiro aqui mesmo à porta de casa, respirou e esqueceu durante duas horas o inferno das doenças. E agora o meu Pai dorme, feliz, cansado, útil. A minha Mãe descansa, ali ao lado, no seu sofá, com um sorriso nos lábios, porque hoje há felicidade.


1 comentário: