sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O ESPERADO PODE SER INESPERADO

De um dia para o outro as mudanças acontecem... Sou mãe, a tempo inteiro, por assim dizer. Quer dizer, não trabalho fora de casa, e só tenho folga quando eles estão na escola. De manhã a casa fica vazia. O silêncio torna-se constrangedor. A maior parte do tempo a casa é um minado de gritos e risos (mesmos quando os seus ocupantes já são adolescentes ou pré adolescentes - entre os doze e os dezasseis anos), música, toques de telemóveis e tiros dos jogos de computador e das consolas.

São quatro! Bolas... Eu sei! É de arrepiar cabelo! Tudo com as hormonas aos saltos, a tentarem desempenhar o papel de gente grande. A maior parte do tempo riu-me. Eles: há vozes cada vez mais grossas, e aquela moda maluca - qual fascínio ainda não compreendi - das calças a cair pelo rabo com os boxers  ali a saltar à visão de todos, horas em tronco nu a avaliar os "músculos", abdominais e elevações, as miúdas a telefonar e os chats no pc, jogos de pc e de consolas e os perfumes desaparecem a uma velocidade alucinante para mim e para a carteira. Elas, horas aos telemóveis (meto requerimentos para poder falar com elas), despejam o guarda-roupa à procura de "algo" para vestir (nunca têm nada e nunca sabem o que vestir), uma diz que tem rabiosque a mais, a outra diz que tem a menos, redes sociais, rapazes giros, bons... Dor de cabeça!

Eu sei que já lá estive. Mas eu era eu! Vê-los crescer não é nada "agradável"! Não me digam que é a ordem natural e blá blá blá. Há meia dúzia de dias andava a mudar fraldas, a cantar anções de embalar, a andar em bicos dos pés para que dormissem a noite inteira, a tratar gripes e constipações. Agora é um "mãe, menos, ok!?" constante. Bah!

A verdade é que já não volto a ouvir a primeira palavra dita daquela maneira especial que vai ecoando no meu ego, inchando-o eternamente. Os primeiros passos também já lá vão, com rabiosques cheios de fralda. As côdeas de pão para coçar as gengivas e descobrir novos sabores que deixavam tudo lambuzado, terminaram há muito. E aquelas gracinhas que o pediatra referia como "habilidades de macaquinhos amestrados" (louco, mas um excelente médico). A saudade aperta!

Há duas semanas a mais velha chegou com uma novidade bombástica: "Tenho um namorado! Não se vão chatear pois não? Posso namorar, não posso!" Tirando as primeiras palavras, não me recordo bem das restantes... Conseguem ver aquelas cenas dos filmes, em que o actor ou a actriz recebe uma notícia inesperada e de repente se vê o cenário a afunilar, os sons a tornarem-se distantes, e tudo a ficar desfocado... (uma sensação de agorafobia). Pois é! E a única coisa que eu via era a moçoila com não mais que uns 80 cm de altura e dois totós minúsculos.

Claro que se permitiu! Não podia ser de outra maneira. Não há nada de estranho num namoro... A não ser vê-los despegarem-se cada vez mais de nós.

Crescer é inevitável, e graças sejam dadas. Hoje restam-me as memórias nas paredes, nas prateleiras, nas mesas. Sinto-me nostálgica quando percebo que não vou voltar a ensiná-los a falar e que aos poucos vão deixar de precisar da minha assiduidade.

Mas afinal é esse o papel de uma mãe. É esse o papel de um pai. O papel de os ensinar a dar passos cada vez mais largos, cada vez mais longe da linha de partida. A côdea de pão foi apenas o início da aventura, que me deixa espantada e feliz por ter a certeza que tenho dado o meu melhor. Participei no crescimento de quatro seres que se vão tornando cada dia mais independentes e convictos dos seus sonhos e objectivos. Que mais poderia eu fazer?