Falar de Amor… Hum!
Estou aqui às voltas a tentar perceber o que dizer sobre “AMOR”.
Visões diferentes de um mesmo Estado…
Alguém apaixonado terá certamente uma visão diferente daquela outra
pessoa que não o está. Quem sente que sofre ou sofreu por Amor terá certamente
uma outra visão do Amor, diferente da de tantos outros.
No Amor culpamos o outro se não corre bem… O velho adágio “Água mole
em pedra dura…” tem a sua verdade. Mas não absoluta, inalterável. A verdade é
que nem sempre a pedra fura.
É verdade que não sou nenhuma especialista. Longe de mim! Sei de mim,
e cada um de si. Mas tenho uma opinião: a minha.
Deixa-me baralhada o modo e a rapidez com que se começam e terminam as
relações. Num dia (por assim dizer) ama-se tão perdidamente e no outro diz-se “Já
não te amo!” Amor é aquela coisa indescritível
que se sente e pronto; que perdura; que existe sem porquês; que nos faz mover
montanhas; que nos faz aspirar à imortalidade; que nos faz sentir saudade;
desejo; encanto… O Amor faz-nos crescer, renascer, e ser criança, e tudo de
novo; outra vez.
Não confundir com paixão, com enamoramento, com encantamento. Tenho
essa teoria… A Paixão é escaldante e efémera (“Heartburn” – Meryl Streep and
Jack Nicholson). O Amor é eterno, calmo, compreensivo, atento, protector (“Falling
In Love” – Meryl Streep and Robert De Niro)… Logo, poucos têm o prazer de um
Encontro com o Amor.
E ter a certeza que é Amor? Que é Paixão? Saber… Para sabermos bem
algo, seja o que for, é preciso conhecer cada pormenor. E os pormenores, esses
são quase infinitos… Logo, o nosso saber é sempre imperfeito e superficial.
Pensar com o coração: prós e contras. Tem os seus perigos. A sede de
Amar e de se ser Amado… trás muitos perigos, muitas aprendizagens, muitos
encontros e desencontros. É que Amar não é um jogo. Amar não é um passatempo.
Amar não é um termo de interesses e vontades. Amar é, muito resumidamente, o
outro, a face à nossa frente, o batimento do nosso coração noutra anatomia, o
desejo inescrutável de existir para todo o sempre porque se deseja que o outro
exista para todo o sempre – e que os dois nunca se separem. O Amor é
intemporal.
Lembro-me de uma história, contada por um Padre, quando ainda me conseguiam
arrastar para a igreja. Um sermão sobre o casamento, sobre o Amor…
Havia uma família muito pobre; tão pobre. O Pai, a Mãe, e cinco
filhos. Uma família onde o Amor era o grande alimento, onde a comida
escasseava, e o trabalho se multiplicava. Quando a mulher – uma dura
trabalhadora, uma exemplar esposa, uma extremosa Mãe – teve o último bebé, ficou
débil, frágil, incapaz da mesma força. Agora já não ia para os campos trabalhar
com o marido, com as cinco crianças a reboque, os cinco filhos que não perdia
de vista. Agora ela ficava em casa, a lavar a escassa roupa de toda a família,
a lavar fraldas, a remendar roupa que tinha sempre um ou outro buraco, a inventar
as refeições com os escassos ingredientes. Todos os dias preparava um farnel
para o marido levar para os campos: um pedaço de pão, um resto de toucinho, um
resto de linguiça cozida, uma mão-cheia de azeitonas, um punhado de batatas às
rodelas fritas em banha, uma maçã, uma laranja, uma pêra, o que houvesse… o
marido trabalhava arduamente. Quando o marido chegava para jantar, as crianças
já estavam a dormir, depois de um bom prato de sopa – se havia carne para pôr
sopa, era um milagre.
E ela dizia sempre que já tinha comido – sendo outra a verdade… E o
marido via a mulher definhar de dia para dia, sabendo da sua pequena mentira,
em prol dele e dos filhos.
Num ano de secas, seguido de grandes chuvas, o trabalho dos campos escasseou.
Os patrões não tinham produtos para comercializar; o pouco que havia estava
quase ao preço do ouro; e não havia dinheiro nem trabalho para a maioria dos
trabalhadores. Não havia dinheiro; não havia comida.
Um dia de fim de verão, o homem saiu para as vindimas, apenas com um
pedaço de pão seco para comer ao longo do dia. Luzia-lhe o olho, os cachos de
uvas. Sabia o quanto a esposa as adorava. A tentação era grande. Queria guardar
um cacho para lhe levar. Mas com o capataz ali perto… Ela estava tão doente! Se
ela visse aquelas uvas!
E o capataz percebeu. E emocionou-se. Recolheu das cestas um exemplar
cacho e entregou-lho.
- Toma. Guarda! Não digas nem mostres a ninguém!
Era meio-dia. Parou para comer o seu pedaço de pão, ciente do cacho de
uvas dentro da marmita de alumínio, gasta. Mas não lhe tocou. Nem uma única uva
tirou do cacho.
- Quantas vezes deixa ela de comer para que não falte a mim nem aos
meninos. Hoje levo-lhe esta surpresa.
Guardou sigilosamente a marmita com o cacho. E no fim do dia caminhou,
feliz, realizado, capacitado do seu lugar de chefe de família, honrado, imaginando
o grande prazer que a esposa sentiria ao ver as uvas. Sentia-se um rei a levar
um tesouro de valor incalculável à sua rainha, amada.
De tão rápido que andou chegou a casa ainda os filhos estavam
acordados. Entrou, com um enorme sorriso a rasgar-lhe o rosto. E ela curiosa
perguntou-lhe:
- O que aconteceu, homem?
- Isto!
Tirou o cacho e deu-lho. Os olhos da mulher iluminaram-se, bem como os
dos filhos.
- Quantas vezes não comes mulher, para que não nos falte a nós?! Isto é
para ti. Quero ver-te bem! Quero que recuperes a tua força, a tua alegria.