segunda-feira, 25 de novembro de 2013

METAMORFOSE DA VIDA A DOIS...


Existe um elo invisível, inexplicável, entre aqueles que partilham a existência, que poucos têm oportunidade de experimentar… é provável que esse elo seja aquele nobre, sublime e transcendente sentimento que apelidamos de “AMOR”.

Em séculos de existência, sempre houve forma de dois quaisquer seres se encontrarem… sempre ouvi a minha avó dizer “Cada tacho tem a sua tampa!” Mas pergunto-me, quantas vezes se tornaram um só?

Sempre afirmei ser como São Tomé: vejo, logo creio… mas também acredito que o pior cego seja aquele que não quer ver. E o “Amor” é essa grandiosidade inexplorada, que se busca sem se ver, se sente sem conseguir explicar… mas manifesta-se, sob o nosso olhar, em nós, em outros, da mesma espécie, de outras espécies…

É um acto simbiótico, o Amor… de tanta partilha, duas existências metamorfoseiam-se, numa só vida… os pensamentos de um transformam-se na sabedoria do outro; as vontades de um transformam-se nos objectivos do outro; as paixões de um são, então, o zelo do outro!

Tive dois mandarins… quem já teve mandarins há de conhecer a esperança de vida destes pequenos e maravilhosos seres que a natureza criou: oito anos. Deram-nos os mandarins com cerca de dois anos. A minha filha e o meu filho tinham respectivamente seis e quatro anos (hoje têm, respectivamente, dezassete e quinze anos).

Ele era o Veloz. Ela, a Branquinha. Durante tempos ansiamos a procriação… O Veloz realmente galava a Branquinha… a Branquinha realmente punha ovos… mas comiam-nos sempre! Jamais houve um bebé sobrevivente… duas ou três vezes, bebés mortos no fundo da gaiola. Não soube qual dos dois comia os ovos ou matava os bebés, ou se os dois… nunca! Mas a Branquinha e o Veloz perduravam, como que a dizer-nos “Basta-vos nós dois!”

Eram tão unidos! Sempre aninhados um no outro, estivesse frio, estivesse calor. “Namoravam”, equilibrados em cima do poleiro. “Falavam” connosco, e mantínhamos longos diálogos. Sempre na marquise, só chilreavam após ouvirem os estores levantar… O Veloz e a Branquinha…

O Veloz e a Branquinha, viveram unidos na paixão e nos saberes perto de treze longos anos! É verdade! Treze! Ontem, dia 24 de Novembro, Domingo, encontrámos o Veloz caído no fundo da gaiola, gelado! Colocámo-lo numa caixinha de fósforos, enrolado num pedaço de feltro, com uma pequena flor… Hoje, dia 25 de Novembro, encontrámos a Branquinha caída no fundo da gaiola, gelada. Colocámo-la numa caixinha de fósforos, enrolada num pedaço de feltro, com uma pequena flor…

Um sem o outro… impossível! Uma história inesquecível encontra o seu fim num intervalo de vinte e quatro horas…

Assim vejo os meus Pais… esse interminável carinho mesmo na doença, essa inexplicável dependência de um pelo outro, esse comunicar no silêncio, esse saber do outro, esse partilhar, essa vida…

Quem vê o Amor como “Dor”, busque nele a “Paz”… nas imensas tempestades da vida, o “Amor”, a capacidade de entrega no “Amor”, essa “coisa que é Amar”… é a força, o espírito da vida, a vontade de viver, o bater leve e descompassado do coração, o sopro surdo e incessante da existência, a razão irracional da vida!

É crer sem que a razão nos permita ver… é vencer a cegueira do espírito… é lançarmo-nos no infinito espaço, que é o Amor…